Por que me sinto uma farsa?
- Vanusa Barreto
- 17 de dez. de 2024
- 6 min de leitura
Atualizado: 7 de mar.
Você costuma ter aquela estranha sensação de que não é exatamente o que aparenta ser?

Sabe aquela dúvida constante sobre o quanto você é capaz, do quanto é realmente boa naquilo que faz e se tem conhecimento suficiente?
Então, é disso que se trata a Síndrome do Impostor (SI) e/ou impostorismo.
Essa dúvida constante sobre a sua própria capacidade seja a nível acadêmico ou profissional, gera sentimentos muitas vezes paralisantes, que se tornam empecilhos mentais que dificultam e/ou impedem o seu desenvolvimento em áreas importantes da vida.
Esse tema foi sugerido por uma pessoa muito especial, que sofre com a síndrome do impostor, assim como muitas mulheres bem-sucedidas, e todas aquelas que não conseguem evoluir profissionalmente, por não acreditarem o suficiente em si mesma.
Vamos entender melhor o que é a Síndrome do impostor, suas características e o que fazer para lidar com esse fenômeno tão limitante.
O que é a Síndrome do Impostor?
“A Síndrome do Impostor (SI), também conhecida como Fenômeno do Impostor, refere-se à crença interna de que se é uma "fraude", independentemente de evidências externas de competência e sucesso”.
Larissa Pereira, Douglas Silva e outros.
A síndrome do impostor é considerada em estudos acadêmicos especializados na área das ciências psicossociais como um “fenômeno”, por se tratar de uma condição psicológica que ainda não tem um diagnóstico definido.
Como a palavra “síndrome” traz a ideia de doença, os pesquisadores preferem utilizar o termo “Fenômeno do Impostor”, já que esse estado psicológico ainda não foi categorizado como distúrbio psicológico no DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), mas já pode ser compreendido como uma insegurança cognitiva.

Essa insegurança permanece mesmo em situações que evidências comprovem a capacidade acadêmica e/ou profissional da pessoa, ela continua sentindo que não é capaz o suficiente e que de alguma forma é uma farsa.
Estudos apontam que esse fenômeno envolve um grupo de sentimentos de dúvida e medo, relacionados a ideia de não ser tão inteligente e/ou competente quanto os seus pares.
Esse estado psicológico é frequentemente correlacionado a ambientes competitivos, onde a pessoa que sofre com a síndrome do impostor, de certa maneira se considera uma "fraude", podendo a qualquer momento ser descoberta.
Vivenciar esses sentimentos produz uma sensação de inadequação no âmbito acadêmico e/ou profissional, ou seja, inconscientemente a pessoa distorce a percepção sobre si mesmo, muitas vezes minimizando e/ou desqualificando suas capacidades e qualificações, com isso não consegue reconhecer e interiorizar suas realizações e conquistas.
Muitas vezes acabam relacionando suas vitórias a casualidade, a sorte ou até mesmo a ajuda de pessoas influentes, reforçando sua falta de autoconfiança.
Essa experiência interna pode afetar diversas áreas da vida, mas os estudos demonstram que afetam principalmente o contexto acadêmico e profissional, por se tratar de vivências em que o desempenho é avaliado, e pelo fato de ocorrer em ambientes extremamente competitivos.
Principais características do impostorismo?
Como ainda não há uma classificação da síndrome do impostor como um distúrbio mental, podemos considerar que se trata de uma vivência interna, ou seja, um modo de sentir e pensar comum a todos que apresentam as características do impostorismo.
O fenômeno do impostor envolve pensamentos, sentimentos e sensações.
● Ansiedade excessiva;
● Autocrítica acentuada;
● Pensamentos intrusivos de inadequação e não pertencimento;
● Dúvidas frequentes sobre sua competência;
● Apreensão contínua de que a qualquer momento, poderá ser exposta como uma fraude;
● Insegurança infundada;
● Padrão extremo de autoexigência;
● Sensação de não merecimento das conquistas;
● Acredita que suas ideias e habilidades não são importantes o suficiente para receber a atenção de alguém;
● Crença de incapacidade;
● As pessoas reconhecem e apostam na competência da pessoa, mas ela não se sente capaz de entregar aquilo que esperam dela.
● Mesmo diante de fatos que comprovem que tem uma excelente performance, as sensações e os sentimentos de que isso é falso não vão embora;
● Vergonha e uma vontade enorme de fugir e/ou sumir;
● Sensação de insuficiência sobre aquilo que é, o que sabe e o que faz.
● Geralmente desconsidera ou minimiza os elogios e/ou reconhecimento;

“Um aspecto crítico é o potencial da SI para limitar a realização pessoal e profissional, levando os indivíduos a subestimarem suas conquistas e competências. Esse comportamento pode resultar em procrastinação, evitação de tarefas e até evasão acadêmica ou declínio na performance profissional”.
Larissa Pereira, Douglas Silva e outros.
Os estudos demonstram que o fenômeno do impostor pode ser uma experiência interna paralisante, devido as distorções em relação ao próprio desempenho, que muitas vezes levam a autodepreciação e autossabotagem.
As construções mentais provenientes desse estado psicológico, induzem a julgamentos infundados e a sentimentos de inferioridade, imperfeição e incompetência que minam a autoconfiança da pessoa.
Podemos ser visitados pelo impostorismo a qualquer momento, mas principalmente em situações em que a pessoa precisa assumir novas responsabilidades acadêmicas ou profissionais.
Muitas pessoas bem-sucedidas em suas atividades, podem vivenciar esse complexo fenômeno, pois não conseguem interiorizar as suas conquistas como sendo uma consequência de suas qualificações e capacidades.
Frequentemente essas pessoas relacionam suas realizações a razões externas como o trabalho duro, o acaso e/ou “networking”, ou seja, não se vendo como merecedoras de reconhecimento.
A pessoa que enfrenta o impostorismo pode desenvolver mecanismos inconscientes como procrastinação, assim como uma necessidade excessiva de preparação, por jamais achar que é bom o suficiente.
Há tratamento para o fenômeno do impostor?
O fenômeno do impostor não tem diagnóstico específico, uma vez que não é considerado um transtorno mental, e por não haver ainda estudos suficientes que comprovem a eficácia de uma terapêutica própria, não temos como falar de tratamento, mas podemos pensar na construção de recursos psicológicos e emocionais, para lidar com essa experiência tão complexa.
De acordo com as pesquisas, um aspecto importante a ser considerando quando falamos da síndrome do impostor, refere-se ao quanto esse fenômeno é atravessado por questões socioculturais e por sua maior incidência em minorias de gênero e étnicas.
Portanto o impostorismo é muito mais abrangente do que um estado psicológico individual, pois envolve um contexto social.
Como não temos controle direto sobre o mundo, temos que focar no que pode ser feito individualmente, e sempre que possível ampliar isso para os espaços que ocupamos como acadêmicos e profissionais.
"...o Fenómeno do Impostor está ligado a elevados níveis de ansiedade, burnout e depressão. Além disto, está relacionado a um profundo medo do sucesso e evitamento de novas oportunidades profissionais. Isto acontece porque tanto o sucesso, como novas oportunidades trazem consigo uma maior visibilidade e a pessoa receia também não estar à altura das novas responsabilidades”.
Helena Nunes

Esse receio de não ser bom o suficiente, muitas vezes está relacionado a um perfeccionismo disfuncional, em que a pessoa se exige uma performance irrealista.
Desenvolver de uma autopercepção mais realista, em que seus limites são identificados e aceitos, é o primeiro passo para sair desse ciclo de autossabotagem, produzido pelo impostorismo.
Outro ponto é separar o que é fato das histórias que você conta a si mesmo, ou seja, ter um diálogo interno mais saudável, em que você questiona os pensamentos intrusivos depreciativos avaliando sua veracidade.
Kevin Cokley (diretor-assistente de iniciativas de diversidade na Universidade de Michigan), traz algumas sugestões importantes.
Em primeiro lugar ele ressalta a importância de se conversar com amigos e familiares sobre o problema, pois ele acredita que provavelmente algumas dessas pessoas já se sentiram da mesma forma.
Ele indica a construção do “hábito saudável” de se lembrar regularmente das suas realizações, isso pode ser feito através de listas, como por exemplo: “dez motivos pelos quais eu sou um profissional bem-sucedido”.
E por fim ele sugere a busca de um profissional da psicologia, uma vez que esse estará apto a auxiliá-la de acordo com suas necessidades de maneira singular.
Podemos finalizar completando que o fenômeno do impostor causa grande sofrimento psíquico e prejuízos acadêmicos e profissionais, e que suas causas são multifacetadas por se tratar de questões pessoais e socioculturais.
Portanto a pessoa precisará cuidar de aspectos que envolvem autoconhecimento, autoestima e de suas dores e possíveis traumas.
Se precisar ou conhecer alguém que precise de ajuda profissional, estou à disposição para juntas trilharmos esse caminho de enfrentamento ao impostorismo.
Referências:
Bruno Vaiano - Entenda de uma vez a síndrome do impostor. Revista Você SA - Atualizado em 26 abril de 2024 - Disponível em: https://vocesa.abril.com.br/desenvolvimento-pessoal/entenda-de-uma-vez-a-sindrome-do-impostor
Larissa P., Douglas Silva., Henrique Silva., Luana Barros., Jonkelion Filho. Impacto da Síndrome do Impostor no âmbito acadêmico e profissional. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 24, n. 3, p. e15278, 8 mar. 2024 – Disponível em: https://doi.org/10.25248/reas.e15278.2024
Helena Nunes., Fenómeno do Impostor em Estudantes de Medicina. uBibliorum Repósitorio Digital da UBI - julho de 2021 - Disponível em: https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/11329/1/8244_17688.pdf